Pix Internacional permite comprar em reais nos EUA? Veja como usar o sistema nas maquininhas americanas
Por: Filipe Vidon
Fonte: O Globo
Em meio a críticas recentes do presidente Donald Trump e a investigações do
Pix conduzidas por órgãos americanos, o sistema de pagamentos instantâneos
criado pelo Banco Central (BC) segue em expansão internacional, e acaba de
dar um passo inédito nos Estados Unidos. Pela primeira vez, turistas brasileiros
poderão fazer compras em território americano e pagar diretamente em reais,
através do sistema brasileiro, com conversão cambial em tempo real e sem a
necessidade de cartão de crédito, conforme antecipou a coluna Capital.
A novidade é fruto de uma parceria entre a fintech brasileira PagBrasil e a
gigante americana de pagamentos Verifone, que juntas lançaram o Pix
Internacional, uma solução que permite a aceitação do método brasileiro
diretamente nas maquininhas dos lojistas americanos.
A nova ferramenta já está disponível em pontos de venda nos EUA e promete
transformar a experiência de consumo dos quase dois milhões de brasileiros
que visitam o país todos os anos, número que cresceu mais de 17% de 2023
para 2024.
Antes, o Pix só podia ser utilizado nos EUA de forma indireta, por meio de
chaves vinculadas a lojistas brasileiros. Agora, qualquer comerciante nos EUA
poderá digitar o valor da compra em dólares, e a maquininha irá gerar um QR
Code para pagamento.
O consumidor, ao escanear o código com o aplicativo de seu banco no Brasil,
verá o valor já convertido para reais, incluindo o IOF (Imposto sobre
Operações Financeiras) de 3,5%. A transação é confirmada em segundos, e o
dinheiro cai diretamente na conta do vendedor.
Segundo a fintech brasileira, para os lojistas, a vantagem vai além da
conveniência: as transações via Pix Internacional custam cerca de 2%, sem taxas
adicionais, enquanto operações com cartões de crédito costumam variar entre
2% e 3%, além de encargos fixos.
Como o Pix é um sistema de transferência bancária instantânea, ele também
elimina o risco de contestações de pagamentos, o que reduz custos
operacionais.
— Trata-se de um divisor de águas para comerciantes americanos em destinos
turísticos como Nova York e Flórida. Só a Verifone oferece essa solução
integrada no ponto de venda hoje, o que representa um diferencial importante
para atrair e atender turistas brasileiros, que gastam mais de US$ 4,1 bilhões por
ano nos Estados Unido — afirmou Madhu Vasu, vice-presidente sênior da
Verifone.
A tecnologia foi desenhada para funcionar com qualquer sistema de pagamento
já instalado, por meio da API de métodos alternativos de pagamento da
Verifone, sem exigir atualizações de hardware. A empresa, que intermedia mais
de US$ 8 trilhões em transações anualmente, tem presença em 75% dos maiores
varejistas dos EUA e opera em 165 países.
Segundo Ralf Germer, CEO da PagBrasil, a expansão do Pix para os Estados
Unidos é também uma resposta à crescente demanda global dos consumidores
brasileiros por métodos de pagamento rápidos, seguros e com menos taxas.
— Essa parceria não só amplia o alcance internacional do Pix como oferece
uma experiência familiar e eficiente para os brasileiros fora do país — e uma
nova fonte de receita para o varejo americano — afirmou.
Para as empresas, o momento da chegada do Pix aos EUA é estratégico. Com
a realização da Copa do Mundo de Clubes de 2025 e a Copa do Mundo de 2026
nos Estados Unidos, a expectativa é de um aumento expressivo na presença de
brasileiros no país. A estimativa da U.S. Travel Association é de que mais de 6
milhões de turistas estrangeiros venham ao país para o Mundial de 2026.
Pix tem modalidade por aproximação — Foto: Beatriz Orle/Agência O Globo
Investigação nos EUA
O Pix foi lançado oficialmente em novembro de 2020, no governo de Jair
Bolsonaro, e rapidamente provocou uma revolução no sistema bancário
nacional. Modelos tradicionais como TED e DOC perderam espaço para o
pagamento instantâneo, especialmente porque, no Pix, o usuário não paga tarifa
e vê o dinheiro na conta logo depois de apertar o botão que libera a transação.
No ano passado, foram movimentados R$ 26,455 trilhões em transferências
feitas via Pix, segundo dados do Banco Central (BC). Com isso, bancos
perderam receita. E modelos de pagamento como Google Pay e Apple Pay
acabam não encontrando um terreno tão fértil para se desenvolverem.
No relatório elaborado pelo Escritório do Representante do Comércio dos
EUA (USTR, na sigla em inglês), que será responsável pela investigação, os
EUA alegam que o modelo brasileiro de pagamento pode impactar os negócios
de empresas americanas.
"O Brasil parece adotar uma série de práticas desleais em relação aos serviços
de pagamento eletrônico, incluindo, mas não se limitando a favorecer os
serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo", diz o
documento.
O escritório americano mistura a questão dos meios de pagamento com multas
impostas a redes sociais americanas que não obedecerem a ordens judicias para
suspensão de perfis que postam discurso de ódio.
E conclui que essas práticas podem "prejudicar a competitividade das empresas
americanas que atuam no comércio digital e nos serviços de pagamento
eletrônico, por exemplo, ao aumentar os riscos ou custos, restringir sua
capacidade de fornecer serviços ou realizar práticas comerciais".